Longevidade vai além de cuidar dos negócios

Para muitos familiares no comando dos negócios, dedicar tempo e atenção às questões vistas como particulares dos demais integrantes da família é considerado desnecessário ou, até mesmo, invasão de privacidade. É importante, porém, atentar que situações de âmbito mais pessoal têm o poder de interferir no dia a dia ou no futuro dos negócios, seja na gestão, na imagem da empresa ou no patrimônio e, por isso, o assunto deixa de ser pertinente só àquele núcleo familiar diretamente impactado e passa a ser de interesse da família empresária como um todo. Diversas pesquisas mostram que a maioria dos empreendimentos familiares fracassa por falta de alinhamento entre os interesses da família e os interesses dos negócios. Ou seja, as estatísticas revelam que a principal ameaça não está em questões políticas, econômicas ou sociais, mas sim no descuido da administração dos conflitos entre os familiares, envolvendo poder, status, dinheiro, reconhecimento, credibilidade, apoio às ideias, etc. Na dúvida se a questão é de natureza pessoal ou não, basta analisar o risco do seu impacto no negócio. E isso não quer dizer “se intrometer” na vida dos outros ou levar os problemas familiares para dentro da organização, mas cuidar para que eles não se amplifiquem e acabem refletindo no negócio. Não é por acaso que as famílias empresárias vêm trabalhando, principalmente com as gerações mais novas, orientando para o regime de casamento, o desenvolvimento profissional, para o bom uso dos recursos da empresa, bem como para a conduta ética desejada de seus integrantes. O receio de frustrar os herdeiros ou de gerar conflitos por fazer os enquadramentos necessários ou “impor” limites pode ocasionar muitos problemas hoje e no futuro. Neste caminho, é preciso que todos compreendam a família empresária como um sistema que tem uma interdependência complexa entre seus integrantes e as empresas das quais são proprietários. E para que essa engrenagem funcione corretamente, faz-se necessário estabelecer regras, acordos, códigos de ética e conduta que norteiem as ações de todos, independente de estarem trabalhando ou não nos empreendimentos familiares. Muito além de definir como cada indivíduo deve agir, é preciso explicar como as atitudes de cada um refletem no legado da família empresária, afinal, eles carregam mundo afora o sobrenome que dá personalidade à organização. Essa necessidade só reforça, como já falamos anteriormente, a importância de estruturar um conselho de família. A partir dele, será possível debater, organizar e estabelecer as regras e os pactos de forma explícita para garantir a longevidade da família empresária com seus valores e princípios intactos. Georgina Santos Sócia da TGI Consultoria

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