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A crise e sua superação pela Empresa Familiar sadia

Enquanto a crise na qual envolveu-se a economia brasileira nesse segundo semestre (que promete ser particularmente agitado) não dá mostras de arrefecer, muito pelo contrário até, vale a pena aproveitar a oportunidade para fazer algumas considerações sobre um tema correlato, já que sobre a turbulência, pelo que tudo indica, teremos que voltar a tratar várias outras vezes. A impressionante sucessão de fraudes contábeis e derrapagens de natureza gerencial verificadas em corporações sediadas nos EUA, chamam a atenção para um fato que merece destaque: nenhuma delas é de controle familiar. As empresas onde ocorreram as fraudes são todas grandes corporações de capital aberto e controle pulverizado. Esse detalhe é importante porque, apesar de não ser comum, existem empresas de capital aberto, com ações negociadas nas bolsas de valores, que mantém o controle familiar. Exemplos no Brasil: Votorantim, Itaú, Gerdau. Em empresas de controle familiar os problemas verificados (maquiagem de balanços efetuadas por executivos para valorizar ações ou inflar participações em resultados) simplesmente não aconteceriam porque seriam descobertas antes de se tornarem públicos. Por certo, as empresas de controle familiar têm outros tipos de problemas que as de controle pulverizado não têm. E, aí, o importante não é procurar saber quem é “melhor” ou “pior”, mesmo porque cada qual tem as suas características particulares. O importante é destacar que, ao contrário do que o senso comum terminou consagrando, a empresa familiar não é nenhuma aberração que precisa ser “combatida” e “tratada” como se seu caráter “familiar” fosse uma doença. Guilherme Velloso, diretor da Panelli Motta Cabreira & Associados / The Amrop Hever Goup, empresa especializada em contratação de executivos, em recente artigo no jornal Valor Econômico, faz algumas considerações muito importantes sobre o assunto. “Empresas familiares não são melhores nem piores do que (…) empresas que têm seu capital pulverizado em bolsa. São apenas diferentes. (…) Empresas familiares podem ser tão ou mais eficientes (…) Tudo depende, em ambos os casos, da qualidade da gestão.” Guilherme Velloso, Valor, 18.07.2002 A qualidade da gestão de uma empresa familiar (a quase totalidade das empresa não-estatais ou são ou um dia foram familiares), além dos princípios válidos para as empresas de qualquer natureza, está diretamente relacionada, no médio prazo, à qualidade do processo sucessório. “É no processo sucessório, da primeira para a segunda geração, ou, mais comumente, da segunda para a terceira geração, quando o número de herdeiros tende a ser maior, que muitas empresas familiares naufragam. (…) são os conflitos no interior da própria, e não a concorrência, que levam as empresas familiares à desagregação e em última instância à derrocada.” Guilherme Velloso, Valor, 18.07.2002 Em épocas de crise como a atual, inclusive, a capacidade de reação da empresa familiar costuma ser mais consistente do que a de uma não familiar por conta da junção da “força” da preservação da empresa com a “força” da preservação da família. Desde que, claro, a disputa sucessória esteja sob controle ou equacionada. Portanto, manter a gestão “sadia” e cuidar com toda a atenção da sucessão são requisitos muito importantes para manter viva e atuante a empresa familiar nessa fase de turbulência econômica, preparando-a para crescer assim que as condições externas melhorarem.

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O futuro da Empresa Familiar

“O grande desafio com que se deparam os fundadores é assegurar a continuidade de sua obra por meio de uma gradativa separação entre capital e gestão. E isso deverá ser feito pelos seus herdeiros.” Renato Bernhoeft, no capítulo “Desafios e Oportunidades das Sociedades Familiares”, do livro “Empresas Familiares Brasileiras Perfil e Perspectivas”, coordenação de Ives Gandra da Silva Martins, Paulo Lucena de Menezes e Renato Bernhoeft, Negócio Editora, 1999, São Paulo “Os herdeiros devem estar conscientes de que não vão herdar uma empresa e que não serão ‘donos’, mas receberão uma sociedade composta de pessoas que não se escolheram. A empresa só continuará se a sociedade se viabilizar.” Renato Bernhoeft e Joaquim Castanheira no livro “Manual de Sobrevivência para Sócios e Herdeiros”, Livraria Nobel, 1995, São Paulo Além do natural desafio da sobrevivência do negócio em mercados competitivos, as empresas familiares deparam-se com questões relativas à sua natureza específica que precisam ser enfrentadas com atenção. A principal questão (e quanto mais cedo for enfrentada melhor) é que a passagem da primeira para a segunda geração (que não é instantânea e pode durar décadas), de cujo sucesso depende a sobrevivência e o sucesso futuro, é, na prática, a passagem de uma empresa com unidade definida de comando – controle do(s) fundador(es) – para uma sociedade de pessoas (sejam irmãos, primos ou outros tipos de parentes) que não tiveram a liberdade de se escolher como sócios. Daí, a necessidade de abordar a questão de forma estruturada, com ânimos desarmados e muita disposição para a negociar acordos viáveis. No tratamento estruturado da questão, uma distinção a fazer logo de partida é entre as três “dimensões” da realidade, geralmente “misturadas” na primeira geração: a dimensão da família, a dimensão da propriedade e a dimensão da empresa. Cada uma delas requer abordagens conseqüentes e específicas. Por exemplo: uma pessoa pode pertencer à família, ser herdeiro (participar da propriedade) mas não fazer parte da gestão da empresa. Ou participar da gestão da empresa (um diretor contratado), não pertencer à família, nem partilhar da propriedade. Ou ser sócio minoritário (participar da propriedade), mas não pertencer à família controladora e participar da gestão da empresa. E assim por diante, com inúmeras variações (ver mais a respeito em “De Geração para Geração”, Negócio Editora). Lidar adequadamente com essas três dimensões da realidade na qual está inserida a empresa familiar é o que tem diferenciado aquelas que conseguem fazer a passagem da geração no comando, prosperam e são bem sucedidas.

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A força da Empresa Familiar

75% dos empregos gerados na economia dos EUA, entre 1970 e 1990, foram pelas empresas familiares (“Viva a Empresa Familiar”, Antônio Carlos Vidigal, Editora Rocco, Rio de Janeiro, 1996). 65% a 80% das empresas (segundo uma estimativa conservadora) são de controle familiar (“De Geração para Geração Ciclos de Vida das Empresas Familiares”, Kelin E. Gersick e outros, Negócio Editora, São Paulo 1997). 50% do Produto Nacional Bruto dos EUA é gerado por empresas familiares (“De Geração para Geração”). 99% das empresas não estatais brasileiras são familiares (“Viva a Empresa Familiar”). A questão que se coloca diante de números tão eloqüentes quanto esses, mesmo quando relativos à economia norte-americana (a pátria das grandes corporações), é: por que o assunto é tão desconsiderado pela tradicional e predominante abordagem “oficial” da chamada administração de empresas, mesmo nos EUA? Pior: por que quando chega a ser tratada é com um tom de menosprezo, como se, para uma empresa, ser familiar fosse atestado de incompetência ou necessariamente falta de profissionalismo? A questão que se coloca diante de números tão eloqüentes quanto esses, mesmo quando relativos à economia norte-americana (a pátria das grandes corporações), é: ? Pior: por que quando chega a ser tratada é com um tom de menosprezo, como se, para uma empresa, ser familiar fosse atestado de incompetência ou necessariamente falta de profissionalismo?A verificação da magnitude do problema permite formular a seguinte generalização, pelo menos para a nossa realidade: praticamente todas as empresas privadas ou são ou um dia foram familiares. Se é assim, então, certamente a melhor atitude a adotar, ao invés de “desconhecer” a empresa familiar, é tratar o assunto com a seriedade e a competência que merece. Em se tratando de empresas de controle familiar, existem questões de extrema relevância que, quanto mais cedo forem abordadas, mais efeitos produzem sobre suas chances de sobrevivência no futuro. Só 30% das empresas bem sucedidas sob gestão do seu fundador sobrevivem à mudança para a 2ª geração. Dessas, só metade passa da 2ª para a 3ª geração. “Viva a Empresa Familiar” Há muito a fazer, no âmbito de cada caso, para melhorar esta estatística mas é preciso jogar luz sobre a questão, desmistificar, conhecer experiências bem sucedidas, discutir soluções realistas e adequadas. A complexidade de uma empresa familiar não é necessariamente maior do que a de uma não-familiar. A diferença é que ela tem uma dinâmica própria que precisa ser tratada na sua especificidade e, não, com base numa teoria padrão, aplicável a uma empresa padrão que, na realidade, não existe. No C&T da próxima semana serão abordadas algumas dessas especificidades e apontados alguns dos caminhos trilhados pelas empresas familiares bem sucedidas.

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Familiar e Profissional

Ultimamente tem virado moda dizer que se a empresa é familiar não terá um bom futuro pela frente e que, portanto, o fracasso da gestão é uma questão de tempo. A observação da realidade cotidiana das nossas empresas, em sua maioria de origem familiar, não confirma a veracidade dessa tese. Existem muitas empresas familiares bem sucedidas, assim como existem empresas não-familiares mal sucedidas. A chave do sucesso ou do fracasso de uma empresa está menos ligada ao fato de ela ser ou não familiar e, mais, ao de ela ser ou não profissional. Existem empresas familiares que conseguem ser profissionalizadas, mesmo com a permanência dos familiares nos postos de direção e, com isso, aumentam muito suas chances de sucesso. Por outro lado, existem empresas familiares, mesmo atuando em negócios promissores, que não conseguem sair do círculo de giz dos seus problemas e viram campo de batalha de disputas “fraternais”, às vezes mais ferozes do que se seus integrantes não fossem parentes entre si. É preciso que se diga que, de um modo ou de outro, em graus maiores ou menores, quase todas as empresas um dia foram familiares “de fato” ou “de direito” (verifica-se isto até pelos nomes de algumas multinacionais). As que sobreviveram foi porque conseguiram profissionalizar-se, ou seja, fizeram a passagem da gestão meramente familiar para a gestão profissional. O problema de nossas empresas é que elas são muito jovens. Pouquíssimas têm mais de 25 anos (o tempo, por definição, de uma geração) e, portanto, ainda estão, na sua maioria, sob a gestão dos fundadores ou de seus descendentes diretos. Agora é que começam a enfrentar, de fato, o problema da sucessão de gerações no comando. E este é, sem dúvida, um momento delicado. Como se não bastasse, esse momento está acontecendo em meio a uma espécie de revolução no ambiente competitivo, com a abertura da economia ao mercado internacional e com a explosão da concorrência em segmentos antes mais tranquilos.Tudo isso exige, sem dúvida, aperfeiçoamentos profundos na gestão das empresas. Mas, é possível, sem dúvida (os exemplos não são poucos), profissionalizar as gestões familiares. E esta é, até, uma boa oportunidade para isso. A prática tem demonstrado que é importante tomar alguns cuidados para facilitar esse trabalho. Com esses cuidados básicos e um investimento no aperfeiçoamento contínuo da gestão, qualquer empresa familiar se profissionaliza, consolidando uma gestão competente, com boas chances de êxito na batalha competitiva.

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