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O futuro do sucedido também merece atenção

Quando o assunto é sucessão nas empresas familiares, o convencional é que a maior atenção dos envolvidos seja sobre o processo de transição com foco no sucessor, que atividades irá assumir, quais aptidões terá que desenvolver e como administrar os prováveis conflitos entre ele e o sucedido. No geral, o projeto sucessório gira em torno desses pontos, mas não é só isso que está em jogo. Também faz parte do trabalho discutir o futuro do sucedido, suas novas responsabilidades e como será o caminho para a nova fase e, do mesmo modo que em relação ao sucessor, acompanhar a implantação desse projeto. Lideranças sucedidas com um projeto pós-sucessão atrativo e estruturado sabem que a passagem do bastão significa tanto o sentimento de dever cumprido quanto a prontidão e a disposição para iniciar uma nova etapa. É pouco viável imaginar que um empreendedor que teve um projeto profissional durante a vida inteira irá aceitar passar a direção da empresa que, muitas vezes, criou e fez crescer, afastar-se radicalmente da vida do trabalho e de atividades que lhe dão prazer, mesmo que também tragam preocupações. Afinal, a vida é isso: prazeres e tensões. Um afastamento radical acaba por gerar frustração, redução da autoestima, acompanhando um sentimento de não ser mais útil ou se perceber com obsoleto. Apesar de saber do papel que desempenhou na história da empresa, o sucedido não se sente mais essencial para o negócio. Mas o foco pode ser diferente. Depois do dever em parte cumprido é hora de se dedicar a outras atividades, tanto produtivas quanto prazerosas. Isso faz toda a diferença num processo sucessório. Os sucedidos facilitarão muito mais a chegada dos mais novos, pois têm algo bem interessante esperando por eles. São vários os exemplos de sucedidos que saíram do comando, mas continuaram atuando no desenvolvimento dos herdeiros, integrando o conselho de família ou até mesmo cuidando de projetos sociais ligados à organização. Projetos fora da empresa também são válidos. Desenvolver pesquisas, fazer um intercâmbio, aprender uma nova língua, escrever um livro, ou seja, colocar em prática planos e sonhos que ficaram adormecidos por falta de tempo. O importante é não ficar parado, senão pode acontecer do sucedido ter mais dificuldades em lidar com a transição, de interferir nas tarefas do seu sucessor e não aceite bem as inevitáveis diferenças no estilo de atuação. Em respeito ao seu legado, o sucedido tem o direito, e talvez o dever, de escolher fazer algo que goste e que lhe dê prazer, seja dentro ou fora da empresa. O importante é que esses projetos sejam bem pensados e que não impactem negativamente na saúde financeira da organização. Georgina Santos Sócia da TGI Consultoria

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Troca de experiências é segredo da boa governança

Na hora de estabelecer uma governança na empresa familiar, é comum que as famílias empresárias procurem livros e especialistas no tema visando conseguir uma orientação mais direta, uma resposta pronta para suas necessidades. Entretanto, a experiência prova que as soluções são diversas e muitas vezes contrariam a teoria. Os modelos de governança são um referencial para a construção de alternativas, mas não a solução. A governança é um processo complexo e não dispensa a assessoria de um especialista experiente e o envolvimento da família. Uma alternativa complementar para reforçar a escolha de soluções adequadas é trocar informações com outras famílias empresárias e conhecer experiências que deram certo ou não na história das empresas. Nesse cenário, cabe ao especialista conhecer a trajetória do seu cliente, orientá-lo sobre o processo e construir alternativas de solução, cabendo à família se engajar e estudar o tema, seja trocando experiências, lendo livros ou mesmo aprofundando a compreensão da trajetória da empresa e da cultura familiar. O alinhamento de conhecimento sobre o tema e a história da família entre os protagonistas são um diferencial no processo de construção do modelo de governança da empresa em questão. Infelizmente, ainda há muita resistência para a troca de informações. Talvez por pensar que as vulnerabilidades da família ficarão expostas, tudo é visto como sigiloso e reservado, o que dificulta o processo. As empresas familiares precisam compreender que os ganhos da troca são maiores que possíveis “constrangimentos”. Todas cometem erros em sua jornada, mas isso pode ser minimizado se aprenderem umas com as outras. Histórias de sucesso ou mesmo tentativas que não deram certo são ricas e cheias de referências que servem de inspiração. O tema governança é relativamente novo para as empresas brasileiras e em especial para as pernambucanas, o que torna mais importante a troca de informações. Todas as empresas familiares estão no mesmo barco, em busca do desenvolvimento e da profissionalização, logo, a troca acumula conhecimento. Discutir problemas e soluções deve ser visto como construção de um saber comum, o que reforça a competência de todos. Uma vez que seja possível essa abertura entre empresas, é importante que todos avaliem a experiência de outras organizações nas situações mais peculiares dessa categoria. Como se deu o processo de sucessão, como se formou o conselho de família, o que se discute nesses encontros, resistências encontradas, dificuldades e cuidados que precisam ser considerados são alguns tópicos que podem ser discutidos. No Brasil, já existem algumas associações de famílias empresárias que se reúnem para trocar experiências. O relato dos participantes confirma a importância de deixar de tratar o tema com um tabu em prol do desenvolvimento das próprias corporações. Georgina Santos Sócia da TGI Consultoria

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Quando instalar o modelo de governança numa empresa familiar?

Se entendemos a governança como o conjunto de regras que definem as interações entre os sócios de um empreendimento familiar (propriedade), a família empresária (família) e os dirigentes do negócio (gestão) com o objetivo de otimizar o desempenho de uma empresa e proteger todas as partes interessadas, proprietários, herdeiros, executivos, etc., é importante avaliar o momento oportuno de fazer a sua aplicação. A partir da conceituação, pode-se dizer que o tempo ideal é coincidente com a criação do empreendimento. Em tese, as empresas já deveriam nascer trabalhando as questões da governança, mas óbvio que esta não é a realidade. Em geral, para a primeira geração, os fundadores, a questão não é uma prioridade, pois nessa fase o desafio está em fazer o negócio se estabelecer, em transformar o sonho em algo rentável. De modo geral, o tema só se torna prioridade quando a segunda e terceira gerações, os filhos e netos, começam a atuar juntos na organização, ocasião em que surge a demanda de mais informações e os conflitos se tornam mais frequentes e intensos, impactando na unidade familiar e nos negócios. Trabalhar a governança quando os conflitos já estão estabelecidos torna a construção das regras mais desgastante para todos, o que é minimizado quando o desenvolvimento do negócio e a estruturação do modelo e das práticas de governança caminham juntos. Talvez seja utópico pensar a governança já na fundação do empreendimento, mas não é demais trabalhar a questão antes da segunda geração começar a atuar, seja nos negócios da família ou não. Quando isso é feito, as diferenças entre herdeiros e sucessores são esclarecidas, seus direitos e deveres estabelecidos, protegendo o empreendimento daqueles que não têm interesse nem aptidão para o negócio. Infelizmente, o mais comum é o fato das empresas familiares chegarem à segunda e até à terceira geração com poucas práticas de governança estabelecidas e sérios conflitos não resolvidos. Não são raras, por exemplo, discordâncias entre irmãos e primos quanto às diferenças de remuneração ou mesmo de direito ao patrimônio, quando alguém acha que deu maior contribuição numa fase muito difícil ou teve participação mais ativa na consolidação do negócio. Sem um modelo de governança estabelecido, torna-se mais difícil separar as três dimensões que compõem uma empresa familiar: a gestão, a propriedade e a família. Quem está à frente dos negócios muitas vezes resiste a entender que trabalha também para aumentar o patrimônio de familiares que optaram por não trabalhar na empresa, por um estilo de vida diferente ou, ainda, por ter outro empreendimento. A lei não diz que um familiar tem mais propriedade que outro por dirigir os negócios. Na prática, este profissional da família é um executivo que deverá ter remuneração e benefícios inerentes à função, da mesma forma que um profissional de fora teria, só que com o direito à propriedade, pelo fato de ser um herdeiro. Esse é um típico exemplo de conflito que uma governança bem estabelecida evitaria. Em resumo, para as empresas familiares que querem ultrapassar gerações, é muito importante que as normas e os acordos que dizem respeito à gestão, à família e à propriedade comecem a ser estabelecidos o mais cedo possível sob pena de perderem condições de manter sua capacidade competitiva. Georgina Santos Sócia da TGI Consultoria

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Profissionalização das demandas nas famílias empresárias

Em empresas familiares, as demandas particulares dos executivos da família podem, muitas vezes, confundirem-se com as demandas da própria organização. As prioridades familiares acabam concorrendo com as empresariais, complicando e sobrecarregando a rotina do negócio. Para evitar problemas para as duas partes, o negócio e a família, as empresas familiares vêm lançando mão da estruturação de um Family Office, que nada mais é do que um escritório voltado exclusivamente para os interesses da família. Organizado como uma unidade de prestação de serviços, o Family Office pode oferecer suporte em áreas como contabilidade, proteção patrimonial, seguros, planejamentos tributário e patrimonial, além de gestão de propriedades, entre outros. O serviço pode, inclusive, estruturar o suporte para pagamento de contas dos familiares, fazer agendamento de viagens e tratar dos demais encargos de uma secretaria. Não são raras as queixas de que prioridades importantes da empresa perderam o prazo ou não foram feitas por conta de demandas particulares de familiares. Sem falar do dilema que vivem secretárias, advogados, contadores, áreas de compras ou de TI para definir a quem devem atender primeiro: a família ou a empresa. Com o Family Office, esses serviços passam a ser realizados por uma equipe que tem a missão de dar suporte às famílias empresárias e, principalmente, evitando que a rotina de funcionamento dos negócios fique em segundo plano. Entretanto, apesar de ser uma excelente solução, a estrutura de um Family Office pode não caber no orçamento da empresa, por isso tem sido mais usada em grandes organizações que possuem famílias mais numerosas. No caso das pequenas e médias empresas familiares, a instalação de um Family Office pode ser financeiramente inviável. Nesse caso, como as demandas das famílias poderiam ser profissionalizadas valendo-se da estrutura já existente na empresa? O primeiro passo a ser dado é definir que tipo de serviço a estrutura da empresa poderá prestar e para quais familiares. Em seguida, deve-se estabelecer como se dará o processo de solicitação dos serviços pelos familiares, a quem pedir e como, se por e-mail, telefone, etc. Também é importante acertar previamente como resolver prováveis choques de prioridades e, por fim, em que situações uma demanda de um familiar não poderá ser atendida. Ou seja, não é obrigatório que as empresas familiares montem uma grande estrutura de Family Office, mas a experiência mostra que é essencial definir e deixar claras as normas de utilização dos serviços da empresa. Definindo estas regras e garantindo o cumprimento delas por todos, a família é atendida em suas necessidades sem atropelos no funcionamento dos negócios. Georgina Santos Sócia da TGI Consultoria

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Desafios da profissionalização da empresa familiar

Muito se fala sobre os benefícios de profissionalizar uma empresa familiar. Inegavelmente, os ganhos são muitos e é possível até dizer que é condição essencial à continuidade do legado das famílias empresárias por gerações. Mas qual o principal desafio de um processo de profissionalização para as famílias empresárias? A resposta é simples: mudança de comportamento. Muitos donos de empresas familiares ainda confundem as prioridades da família com as da empresa e consideram que as políticas e os procedimentos só valem às vezes ou para alguns. São comuns, por exemplo, atitudes como não prestar contas de suas ações ou solicitar alguma demanda diretamente às equipes, desconsiderando a hierarquia e as prioridades da empresa, ou até mesmo sair de férias ou faltar sem avisar às pessoas com quem trabalha diretamente. Com certeza, muitos proprietários agem dessa forma por acharem que, por serem donos, “podem tudo”, sem se darem conta do quanto essas atitudes prejudicam o planejamento e as rotinas de trabalho, além de confundirem a equipe e criarem um ambiente de trabalho ruim. Questionamentos do tipo “atendo primeiro o dono da empresa ou o meu gerente?” passam a ser comuns e não é raro que as demandas da empresa sejam colocadas em segundo plano para evitar desagrados que podem culminar em demissão. E é justamente essa mudança de comportamento por parte dos donos que deve ser trazida junto com a gestão profissionalizada da empresa familiar. Em empresas realmente profissionalizadas, as famílias servem as empresas, as decisões são pactuadas e alinhadas à estratégia, a hierarquia, as regras e os padrões de conduta são respeitados e valem para todos, os pactos de autonomia são claros, os gerentes sabem até onde podem ir e suas decisões são respeitadas. E qual a razão de questões tão básicas e óbvias de gestão ainda serem um desafio para as empresas familiares? Sem nenhuma dúvida, a resistência à mudança de comportamentos. Sendo assim, veja as principais hipóteses para a resistência. 1 – Falta de crença que questões tão simples possam causar desgastes ao ponto de colocar em risco a perenidade dos negócios. 2 – Pelo fato da profissionalização estabelecer limites e gerar o sentimento de perda de poder, agora preciso pedir licença para mandar no que é meu. 3 – A exigência de lidar com novas práticas de gestão e esquecer aquelas tão arraigadas e que vinham dando certo. 4 – Dificuldade de pedir ajuda e reconhecer que não sabe por onde começar nem o que fazer para profissionalizar. Seja qual for a razão da resistência, é preciso superá-la e iniciar já a profissionalização – um processo exigente que só terá sucesso se patrocinado pelas famílias empresárias. Georgina Santos Sócia da TGI Consultoria

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Profissionalizar preservando o patrimônio familiar

Quando falamos em empresas familiares, três fatores são considerados essenciais à sua perenidade num mercado cada vez mais competitivo: a implantação da governança corporativa, o equacionamento da sucessão e a profissionalização da gestão e dos controles. A pesquisa coordenada pela TGI Consultoria em Gestão mostra que no item profissionalização as empresas familiares pernambucanas já estão fazendo o “dever de casa”. Essas empresas, durante muito tempo, foram caracterizadas apenas por traços dificultadores: mistura entre os âmbitos empresarial e familiar, contratação de familiares sem competência para funções estratégicas, processo decisório centralizado e confuso, entre outros. Esse cenário está mudando, pois as empresas familiares pernambucanas vêm investindo na qualificação do processo decisório, na consolidação de mecanismos de controle e no desenvolvimento de uma cultura de respeito aos acordos. Também estão, cada vez mais, trabalhando com planejamento e, principalmente, profissionalizando a ocupação de cargos estratégicos. Essa última questão merece destaque, pois perdurou por bastante tempo o equívoco de que profissionalizar uma empresa familiar seria interditar pessoas da família de trabalhar na gestão, particularmente em funções diretivas. De fato, o que é danoso é ter profissionais sem competência, independentemente de serem ou não da família. É bom que estejam em posições de liderança tanto os profissionais da família quanto os do mercado. Esse mix ajuda no equilíbrio de interesses da família e da empresa. E esse equívoco tem impactado diretamente em outro desafio das famílias empresárias: a sucessão. Não é raro, hoje, relatos de famílias que investiram na educação formal dos filhos, mas se “esqueceram” de prepará-los para herdar e dar continuidade ao legado familiar, acompanhando a evolução da empresa. Agora, esses jovens, empresários em outros negócios, profissionais de mercado bem-sucedidos ou mesmo pessoas com formação acadêmica de excelência, não têm interesse nem identificação com os negócios da família. Alguns, inclusive, de famílias com grande patrimônio financeiro, acostumaram-se a ter um padrão de vida elevado sem precisar trabalhar. As razões para a falta de interesse são facilmente perceptíveis. Para os herdeiros realizados profissionalmente, cuidar da empresa da família significa desvio de foco ou desperdício de energia. Já para os que estão acostumados a ter renda sem trabalhar, a opção de venda parece mais atrativa, na medida em que vai permitir aumentar o patrimônio financeiro sem “suar a camisa”. Por isso, o alerta é de não excluir familiares competentes dos negócios da família por ideologia ou preconceito, se depois, por conta dessa exclusão, a família poderá perder todo o potencial representado pela empresa por falta desses profissionais para dar continuidade ao seu legado. Famílias empresárias não devem ter como prioridade apenas o lucro nos negócios; elas têm também o dever de manter viva a realização de um sonho, a reputação da família e a sua história de sucesso. Georgina Santos Sócia da TGI Consultoria

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Empresas familiares têm donos ou sócios?

Dados recentes da Harvard Business School e do SEBRAE mostram, respectivamente, que 2/3 de todas as empresas do mundo e 90% das organizações brasileiras são de origem familiar, confirmando sua importância não só para a economia do país, mas para a do resto do mundo. No que tange à longevidade, porém, as estatísticas não são tão animadoras: apenas 9% das empresas familiares chegam à terceira geração, segundo o Portal Estadão/IBGE, 2015. E basta observar a história de algumas para entender que a principal ameaça à sobrevivência dessas empresas são os conflitos familiares não administrados e acumulados. E muitos poderiam ser evitados se os seus proprietários agissem como sócios e não como donos. Mas qual a diferença entre ser dono e ser sócio? Não seria a mesma coisa? Não só não é a mesma coisa, como a diferença é enorme. Donos de empresas familiares agem como se tivessem voz única, comandam a organização sem compartilhar ideias com os demais proprietários, desmancham com tranquilidade a decisão do outro, usam os recursos da empresa como se fossem seus ou nem sequer combinam quando vão sair de férias. E ainda se vangloriam do sucesso da organização como se tivessem feito tudo sozinhos. Atitudes como essas são terras férteis para acirrar as rivalidades entre os familiares, gerar mágoas e ressentimentos, assim como o desejo de romper. Já os sócios respeitam a hierarquia e as regras da organização, têm retiradas com critérios determinados e prestam contas de suas responsabilidades. E quando trabalham na empresa, independente do cargo que ocupam, não ficam limitados à sua área de atuação e investem em conhecer as variáveis críticas do negócio, mostram interesse pelos problemas de outras áreas e participam ativamente de momentos importantes, como comemorações ou confraternizações promovidas pelos empregados ou pela empresa. Ser sócio de uma empresa familiar não significa poder fazer o que quer ou gosta e sim o que é preciso para o sucesso dos negócios. Sair do estágio de uma empresa familiar de donos para uma de sócios exige disposição para conversar sobre os comportamentos e as atitudes dos proprietários que geram incômodos e insatisfações, trazendo prejuízos à sociedade. Em outras palavras, requer tratar os conflitos enquanto parecem pequenos e insignificantes para o tamanho do negócio e que sejam recentes. Desconsiderar e negar sua existência ou deixar acumular pode tornar sua administração mais difícil e até mesmo irreversível. Quem tem experiência com administração de conflitos sabe o quanto é difícil no começo, pois a tensão é grande. Mas depois o processo vai se tornando mais natural, as pessoas aprendem a se expressar e lidar melhor com as emoções. Em nome da longevidade das empresas familiares, enfrentar os conflitos vale a pena! Georgina Santos Sócia da TGI Consultoria

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A família ampliada na empresa familiar

O núcleo familiar original consiste, tradicionalmente, nas figuras de pai, mãe e filhos. Ao se expandir, a esse núcleo se unem cunhados, genros e noras. Algumas vezes eles são chamados de “agregados”, com certa conotação pejorativa, ou de “escolhidos”, com um sentido de “privilegiados”. Isso pode incluir, também, irmãos (dos fundadores), cunhados, sobrinhos, concunhados, etc, uma vez que a extensão do conceito de família é muito ampla. Em qualquer família empresária, a interferência dessas pessoas nos negócios, direta ou indiretamente, pode se tornar um desconforto quando o papel deles não está claro. Por isso, profissionalizar essa participação é fundamental para o bom funcionamento da empresa e da vida em família. Há que se considerar que, por vezes, esses conceitos restritivos, quase preconceitos, apoiam-se em receios associados a questões ligadas aos direitos de herança, mas tudo tem como ser profissionalmente bem resolvido. Ainda é grande a quantidade de empresas familiares que têm uma visão restritiva com relação aos seus negócios e vinculam o conceito de família apenas aos parentes de sangue. Nesse cenário, genros, noras, cunhados, cunhadas, por exemplo, podem ser excluídos da vida empresarial e do andamento dos negócios. A experiência tem evidenciado, porém, que a participação dessas pessoas, se adequadamente profissionalizada, pode trazer uma contribuição bem positiva na discussão de questões que envolvem a família e a empresa. Existem muitos casos de grupos empresariais que contrataram como executivos profissionais com esse vínculo familiar ampliado e foram muito bem-sucedidos. A principal questão a ser pensada não é se o parentesco é de sangue ou não, mas se o profissional tem competência e o perfil necessário para assumir um cargo na organização. A contratação precisa ser em função da necessidade da empresa e não do vínculo familiar. Excluir alguém com competência por receio de desavenças pode ser inócuo, pois conflitos existirão, seja entre parentes de sangue ou não, com as pessoas dentro ou fora da gestão, podendo ser desconfortáveis na mesma intensidade. Tentar que parentes que não são de sangue não interfiram nos negócios é uma missão, na prática, impossível, pois em geral a interferência se dá no âmbito da intimidade familiar. E, se conhecem e estão informados sobre a realidade da empresa, a possibilidade de uma influência positiva é muito maior. O orgulho de fazer parte de uma família empresária não exige inserção na gestão e nem no dia a dia dos negócios, mas demanda o sentimento de se sentir fazendo parte do empreendimento familiar, mesmo que indiretamente. Esses integrantes da família ampliada não devem ser vistos como “pessoas de fora”, mas sim como parceiros escolhidos pelos familiares para dividirem a vida e, por isso, são parte da realidade do empreendimento familiar. Georgina Santos Sócia da TGI Consultoria

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Quem da família trabalhará na empresa?

Não há dúvidas de que a profissionalização das empresas familiares é condição para chegarem ao futuro. Em Pernambuco, relatos confirmam que elas estão investindo em modelos de governança, especialmente no plano sucessório. Nesse ponto, vale explicar os critérios mais comuns para definir quem da família trabalhará na empresa. Apesar de ser de praxe que os sucessores tenham formação superior, experiência de trabalho fora da empresa da família e fluência em outras línguas, sabemos que essas competências não garantem o sucesso do processo sucessório. Mas, é inegável que escolher um sucessor que atenda a essas competências pode ter muitas vantagens. Ter uma boa formação acadêmica não significa apenas conhecimento teórico. Até mesmo porque isso é possível conseguir sem uma graduação. Porém, a universidade facilita a construção de um espaço de articulação e de uma rede de relacionamentos com profissionais que já estão ou vão estar em breve no mercado de trabalho. Ou seja, aqueles com boa formação e redes de relacionamento têm mais acesso à informação e uma visão de mundo mais ampla – são mais esclarecidos e receptivos à inovação. Já para a exigência de um segundo idioma, fica a questão se é preciso mesmo morar num outro país por seis meses, por exemplo, para ter uma segunda língua? Não, sabemos que esse tempo não é suficiente para domínio total de um idioma e que existem muitos brasileiros que falam inglês muito bem sem ter colocado o pé fora do país. Então, qual o porquê dessa exigência? Os benefícios de uma temporada no exterior vão além de uma segunda língua, o que facilita contatos com empresas internacionais, a ampliação das fontes de informação e a inserção num mundo globalizado. Jovens que moraram em outro país, por um período mais longo, aprendem a se virar sozinhos num local com cultura diferente e longe da proteção da família. Isso faz com que fiquem mais independentes e lidem melhor com as diferenças. E o que se quer com a exigência de uma experiência de trabalho fora da empresa da família? Com certeza, não é conhecimento técnico sobre o negócio. E se for aprender a lidar com questões práticas, como regras, limites e horários, isso também pode ser aprendido trabalhando como estagiário ou na própria empresa familiar. Na verdade, o maior ganho é a experiência como empregado. O sucessor que já esteve nesse papel se torna mais assertivo no exercício da liderança, entende que cuidar das pessoas e investir nelas impacta positivamente nos lucros. Como se pode ver, terão mais chances de ter um lugar nas empresas da família os jovens que atendam aos critérios básicos de exigências, mas que também saibam liderar e lidar com as diferenças, sejam articulados e receptivos às mudanças, e que tenham melhor visão de mundo. Georgina Santos Sócia da TGI Consultoria

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O conflito nas famílias empresárias

Não é segredo que uma das grandes forças da empresa familiar está nos laços afetivos. As famílias empresárias são capazes, se necessário, de unir esforços mesmo com uma remuneração mínima para que o seu legado não se acabe. Esse comprometimento afetivo em relação ao negócio vem do sonho de dar continuidade e manter viva a história de sucesso da família. Mas é justamente por conta dessa afetividade que uma importante ameaça à perenidade das empresas familiares é o potencial de conflitos entre parentes. Pesquisas mostram, inclusive, que boa parte dessas empresas desaparecem na segunda geração por disputas associadas a questões afetivas e de poder. Ou seja, por mais que elas tenham tido sucesso, a grande maioria ainda não investe o suficiente em planejamento sucessório nem na profissionalização da gestão, peças-chave para ultrapassar os conflitos que começam dentro de casa. E um dos grandes indutores desse trágico resultado é achar que a melhor solução para resolver conflitos é negar a existência ou deixar para lá, pois em breve a “raiva” passa. Não há dúvida de que essas reações são, principalmente, por medo de pôr em risco o convívio familiar, mas é exatamente o contrário o melhor a ser feito. Conflitos não administrados corroem os laços de afetividade e a unidade das famílias empresárias e podem colocar em risco o legado construído. O conflito precisa deixar de ser visto como um problema e passar a ser encarado como um indutor de mudanças para melhor, mas isso requer disposição dos envolvidos para: (1) explicitar com transparência e respeito os pontos de incômodo; (2) ouvir e ponderar as argumentações do outro; (3) expor e fundamentar com consistência seus próprios limites; (4) construir as opções de saída para minimizar os desconfortos. Chegar a uma solução não significa ter um ganhador ou perdedor, e sim decidir pelo o que é melhor para as empresas e as famílias empresárias. Desavenças, brigas ou desentendimentos não tratados, quando se acumulam, ficam incontroláveis, as discussões perdem a racionalidade, a desconfiança aumenta e as relações familiares esfriam. Nessas situações é muito comum que os familiares evitem a convivência fora da empresa alegando que já se encontram muito no dia a dia de trabalho e a ideia de “dividir” o negócio começa a vir à tona. Essa decisão é difícil, pois, de um lado, pode ser a única saída viável para salvar os negócios, mas, por outro, pode fragilizar o empreendimento ou, pior, levar ao rompimento definitivo da unidade familiar. É bom lembrar que o sonho de grande parte dos fundadores é ver seus descendentes trabalhando juntos e dando continuidade à sua história. A possibilidade de dividir os negócios ou de não mais poder reunir toda a família é um pesadelo não só para o fundador, mas também para aqueles que querem dar continuidade a esse sonho que é também de todos. E o que fazer quando esse pesadelo está em vias de se tornar realidade? Não há outro caminho senão transformar os conflitos em oportunidades para profissionalizar a família empresária, construindo mecanismos de governança como acordo societário e de família, plano de sucessão etc. A sinuosidade do caminho a percorrer vai depender do estágio em que os conflitos familiares estão e da disposição destes em reverter a situação. E mais ainda da possibilidade ou não do fundador ser comandante dessa viagem que não pode terminar na segunda geração. Georgina Santos Sócia da TGI Consultoria

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