Este texto faz parte da série Empresa Familiar Competitiva, produzida pela TGI Consultoria com conteúdos que focam a realidade das empresas familiares pernambucanas.
Muito se fala sobre os benefícios de profissionalizar uma empresa familiar. Inegavelmente, os ganhos são muitos e é possível até dizer que é condição essencial à continuidade do legado das famílias empresárias por gerações. Mas qual o principal desafio de um processo de profissionalização para as famílias empresárias? A resposta é simples: mudança de comportamento.
Alguns donos de empresas familiares ainda confundem as prioridades da família com as da empresa e consideram que as políticas e os procedimentos só valem às vezes ou para alguns. São comuns, por exemplo, atitudes como não prestar contas de suas ações; ou solicitar alguma demanda diretamente às equipes, desconsiderando a hierarquia e as prioridades da empresa; ou até mesmo sair de férias ou faltar sem avisar às pessoas com quem trabalha diretamente.
Com certeza, os proprietários que agem dessa forma, acham que, por serem donos, “podem tudo”, sem se darem conta do quanto essas atitudes prejudicam o planejamento e as rotinas de trabalho, além de confundirem a equipe e criarem um ambiente de trabalho ruim. Questionamentos do tipo “atendo primeiro o dono da empresa ou o meu gerente?” passam a ser comuns e não é raro que as demandas da empresa sejam colocadas em segundo plano para evitar desagrados que podem culminar em demissão.
E é justamente essa mudança de comportamento por parte dos donos que deve ser trazida junto com a gestão profissionalizada da empresa familiar. Em empresas realmente profissionalizadas, as famílias servem às empresas; as decisões são pactuadas e alinhadas à estratégia; a hierarquia, as regras e os padrões de conduta são respeitados e valem para todos; os pactos de autonomia são claros, os gerentes sabem até onde podem ir e suas decisões são respeitadas.
E qual a razão de questões tão básicas e óbvias de gestão ainda serem um desafio para as empresas familiares? Sem nenhuma dúvida, a resistência à mudança de comportamento. E as principais hipóteses para a resistência são: (1) falta de crença que questões tão simples possam causar desgastes a ponto de colocar em risco a perenidade dos negócios; (2) pelo fato de a profissionalização estabelecer limites e gerar o sentimento de perda de poder – por que precisaria pedir licença para mandar no que é meu?; (3) a exigência de lidar com novas práticas de gestão e esquecer aquelas tão arraigadas e que vinham dando certo; (4) dificuldade de pedir ajuda e reconhecer que não sabe por onde começar nem o que fazer para profissionalizar.
Seja qual for a razão da resistência, é preciso superá-la e iniciar já a profissionalização – um processo exigente que só terá sucesso se patrocinado pelas famílias empresárias.
*Artigo publicado no caderno Opinião do Diario de Pernambuco no dia 25.11.2016